Quando assistimos A Negação do Brasil, de Joelzito Araújo, temos a possibilidade de analisar a história das relações raciais na telenovela brasileira. É um filme essencial para quem não cai nas falácias da democracia racial, em que "mulatas" de Sargentelli ou Globelezas reproduzem fielmente o lugar de coisificação e exploração do corpo negro característico do racismo sexista do Brasil.
Dois grupos de esteriótipos racistas são explícitos no filme, que se dividem exatamente por questões de gênero: às mulheres negras, são destinados os papéis das "mammys" - a empregada "da família", gorda, generosa, profundamente dedicada a felicidade de seus "filhos" brancos e de seus "patrõezinhos"; a mexiqueira, papel sempre ridículo da jovem negra que fala errado e se mete na vida dos patrões, o núcleo principal - branco, obviamente; ou, na fase amadiana (Tieta, Gabriela, Teresa Baptista), a mulher sensual, "quente", maliciosa. Aos homens negros, o lugar do capataz, segurança, guarda-costas e, quando alçados à classe média, fiel escudeiro do protagonista branco.
Se o filme, A Negação do Brasil fosse atualizado, não mudariam os grupos de esteriótipos racistas. Encontraria um "Da Cor do Pecado", uma novela supostamente - ou melhor - mentirosamente - de protagonista negra, cujas personagens, Preta e Helena, não receberam do roteiro carga dramática para se destacarem realmente como protagonistas, além de serem devidamente deslocadas de sua comunidade negra, fosse ela familiar ou qualquer círculo de relações. Simplesmente eram negras sem amigos negros, longe de sua família negra.
Sabemos que a grande maioria das trabalhadoras domésticas são mulheres negras. Não há qualquer problema de ser esse também um papel assumido por atrizes negras. Mas aí há duas situações a serem observadas: que as atrizes negras, não obstante terem todo o preparo para assumirem qualquer papel, não tenham que ocupar apenas o papel da trabalhadora doméstica; e que o próprio papel da trabalhadora doméstica não seja construído em torno da ideia de "serviçal", sem vida própria, com falas que a ponham num lugar da "ignorância" ridícula.
Via de regra, as trabalhadoras domésticas da novela não têm família, dramas pessoais, questionamentos, uma história própria a desenvolver na trama. As mammys ganham relativo espaço quando a sua função é acalentar e carregar as dores de seus patraõzinhos; as ridículas, quando vão ao samba ou à gafieira mostrar como é divertida a vida do pobre.
Mas hoje temos, na telinha, duas honrosas exceções. Sim, temos uma trabalhadora doméstica protagonista, no papel da mocinha da novela das seis; e uma trabalhadora doméstica antagonista, no papel da vilã, na novela das nove. Impressionate. Elas ganham drama próprio, falas caprichadas, closes estudados de seus rostos, olhares, sorrisos. Curioso, que não erram palavras para os outros rirem e não vão ao samba, ao funk ou à gafieira. O detalhe fundamental: ambas são completamete brancas. Insistimos no "completamente" por serem, Natália Dill e Mariana Ximenes, exatamente o perfil branco - pele branca, cabelos lisíssimos, nariz afinadíssimos, olhos claros - tão caro a Globo e suas mocinhas e mocinhos.
Dois grupos de esteriótipos racistas são explícitos no filme, que se dividem exatamente por questões de gênero: às mulheres negras, são destinados os papéis das "mammys" - a empregada "da família", gorda, generosa, profundamente dedicada a felicidade de seus "filhos" brancos e de seus "patrõezinhos"; a mexiqueira, papel sempre ridículo da jovem negra que fala errado e se mete na vida dos patrões, o núcleo principal - branco, obviamente; ou, na fase amadiana (Tieta, Gabriela, Teresa Baptista), a mulher sensual, "quente", maliciosa. Aos homens negros, o lugar do capataz, segurança, guarda-costas e, quando alçados à classe média, fiel escudeiro do protagonista branco.
Se o filme, A Negação do Brasil fosse atualizado, não mudariam os grupos de esteriótipos racistas. Encontraria um "Da Cor do Pecado", uma novela supostamente - ou melhor - mentirosamente - de protagonista negra, cujas personagens, Preta e Helena, não receberam do roteiro carga dramática para se destacarem realmente como protagonistas, além de serem devidamente deslocadas de sua comunidade negra, fosse ela familiar ou qualquer círculo de relações. Simplesmente eram negras sem amigos negros, longe de sua família negra.
Sabemos que a grande maioria das trabalhadoras domésticas são mulheres negras. Não há qualquer problema de ser esse também um papel assumido por atrizes negras. Mas aí há duas situações a serem observadas: que as atrizes negras, não obstante terem todo o preparo para assumirem qualquer papel, não tenham que ocupar apenas o papel da trabalhadora doméstica; e que o próprio papel da trabalhadora doméstica não seja construído em torno da ideia de "serviçal", sem vida própria, com falas que a ponham num lugar da "ignorância" ridícula.
Via de regra, as trabalhadoras domésticas da novela não têm família, dramas pessoais, questionamentos, uma história própria a desenvolver na trama. As mammys ganham relativo espaço quando a sua função é acalentar e carregar as dores de seus patraõzinhos; as ridículas, quando vão ao samba ou à gafieira mostrar como é divertida a vida do pobre.
Mas hoje temos, na telinha, duas honrosas exceções. Sim, temos uma trabalhadora doméstica protagonista, no papel da mocinha da novela das seis; e uma trabalhadora doméstica antagonista, no papel da vilã, na novela das nove. Impressionate. Elas ganham drama próprio, falas caprichadas, closes estudados de seus rostos, olhares, sorrisos. Curioso, que não erram palavras para os outros rirem e não vão ao samba, ao funk ou à gafieira. O detalhe fundamental: ambas são completamete brancas. Insistimos no "completamente" por serem, Natália Dill e Mariana Ximenes, exatamente o perfil branco - pele branca, cabelos lisíssimos, nariz afinadíssimos, olhos claros - tão caro a Globo e suas mocinhas e mocinhos.
No caso de Escrito nas Estrelas, há ainda algo mais irônico. A mocinha é moradora de favela, não tem estudos e vive buscando trabalho de viração para sobreviver. Bem, se formos construir esse perfil no Brasil perceberemos que, nessas condições, encontraremos majoritariamente mulheres negras. São as mulheres negras que ocupam a base da pirâmide social, com menos acesso aos seus direitos básicos; as trabalhadoras domésticas são, majoritariamente negras. Se a Globo se utiliza disso tão bem para confinar as atrizes e os atores negros em papéis estereotipados e pouco desenvolvidos, por que não terem escolhido uma jovem negra para fazer o papel de Vitória/Viviane?
Simples. Porque ela é protagonista de verdade. (não uma protagonista de faz de conta como foram Preta e Helena). Porque ela, a personagem, ocupa a trama principal, tem falas elaboradas (apesar de mal interpretadas), forma um triângulo amoroso com os dois personagens principais - o espírito Daniel e o seu pai encarnado. Porque ela terá direito a estudar, a seguir seus sonhos, a fazer parte - realmente - da família, através do casamento e da maternidade.
Por isso ela tinha de ser branca.
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